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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Melhor sorte no próximo ano

Dezembro é sempre um mês de muita festa, afinal de contas o Natal e o Ano novo são juntos o período que as pessoas se amam e desejam ao próximo sempre o melhor possível. Mas também nessas datas muita coisa acontece. As chuvas de verão são uma tristeza tamanha, ainda mais numa cidade costeira como o Rio de Janeiro. Porém, o pior são os malandros. Cidade cheia de gringo, a maioria sem maldade na cabeça e cheios da grana. Um prato cheio para qualquer golpe, mas não são somente os gringos que sofrem.
Estava voltando da praia feliz da vida depois da virada do ano, tinha bebido um pouco, juro que foi só um pouco. Um pouco de cerveja, um pouco de vodka, um pouco de vinho, um pouco de champanhe, e de água, aquela que o passarinho não bebe. Contudo, estava bem, andava em linha reta, entendia tudo que as pessoas falavam, em português e inglês e o principal, sabia voltar para casa.
Quando cheguei no ponto de ônibus vi um senhor de idade avançada sentado no chão, chorando baixinho e com um cartaz pendurado no pescoço: “Estou perdido e não consigo voltar para casa, por favor me ajude!!!” Fiquei tão sentido com aquela cena que resolvi tentar ajudar o pobre idoso. Primeiro tentei acordar o sujeito, só depois de muito tempo ele acordou e mesmo assim meio zonzo. Depois de acordado tentei conversar com ele, mas para o meu azar ele era mudo e eu ainda não aprendi isso. Então procurei nos meus bolsos algum dinheiro e nada, tinha gasto tudo, só tinha a carteira com o cheque e o cartão do banco. Mas já passava das 4 da manha e não tinha nenhum caixa 24 horas ali perto. Resolvi ser gentil e pratico ao mesmo tempo. Dei um cheque para ele de 50 reais, claro que cruzei o cheque, e deixei, já que o meu ônibus estava chegando.
Acordei no dia seguinte muito feliz e contente comigo mesmo, afinal tinha aproveitado bem a virada do ano e ainda tinha ajudado uma pessoa que precisava. Mas ai comecei a pensar nas coisas devagar. Eu tinha dado a ele um cheque de 50 reais, que no máximo dava para ir a pé a rodoviária e comprar uma passagem para dentro do Rio de Janeiro. E pior no cheque tinha meu RG e CPF, como eu deixei isso acontecer??? Resolvi relaxar a aproveitar as férias. Viajei no Carnaval para Salvador peguei várias mulheres, bebi muito e já estava ficando triste por ter que voltar.
Quando cheguei em casa estranhei, não consegui entrar. Toquei a campainha e nada de ninguém abrir, estranhei mais ainda. Meu celular estava descarregado e não consegui ligar para ver se havia alguém dentro da casa. Então tive que voltar para a rua e usar o telefone público. Quando consegui ligar ouvi aquela mensagem da operadora que dizia que o telefone não era mais aquele e que ele havia mudado. Comecei a ficar mais preocupado ainda. Sem saber o que fazer resolvi esperar alguém aparecer na porta.
Não sei quanto tempo fiquei ali, só que de manhã fui acordado por policias que me batiam sem parar, nem me perguntaram nada, só me deram porrada. Quando finalmente conseguiu abrir a boca já estava dentro do camburão indo para a delegacia. Na DP mostrei meus documentos para provar que não era vagabundo, mas para minha total surpresa os policiais riram e começaram a me sacanear. Segundo eles eu tinha roubado aquilo de um cara super gente boa e queria me safar da cadeia. Eu gritei que não, eu era quem dizia ser. Então eles pegaram as páginas amarelas e procuraram o nome da pessoa que estava nos meus documentos. Percebi que alguém havia atendido e que os policias pediram para que a pessoa comparecesse a delegacia. Fiquei aliviado afinal de contas quem quer que fosse, poderia me salvar.
Quando entrou pela porta da delegacia me deu a sensação de já ter visto essa pessoa, porém não era ninguém da minha família ou ninguém próximo a mim, estranhei mais ainda. A pessoa se apresentou como se fosse eu, vestia minhas roupas e pior, tinha o documento com o meu nome. Os policiais não tiveram dúvidas, agradeceram e me mandaram para a cela. De noite percebi, era o velho que tentei ajudar, aquele safado roubou as minhas coisas, roubou a minha vida. Hoje eu sou flanelinha no sinal da Av. Vieira Souto, e tento até hoje rever minhas coisas, que com a ajuda da justiça ainda está parada. Isso tem 10 anos, daqui a pouco o “eu” vai morrer e eu vou continuar na merda. Moro no Pavãozinho e tenho 5 filhos e 2 mulheres para sustentar, é foda. Não ajudo mais ninguém.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Na Flor da Idade

Hoje completo 88 anos, uma idade para lá de avançada, afinal das contas hoje em dia ter mais de 80 já é um motivo de orgulho para muitos, e para mim não é diferente. Vai ter até festa semana que vem, com os companheiros de xadrez e do banco da praça. Ficamos às vezes tardes inteiras no banco falando de bobeiras, e rindo desses jovens que ficam se agarrando em público. Total perda de tempo. Minha única tristeza foi ter perdido a minha forma, odeio depender das outras pessoas, e nessa idade em que hoje estou, infelizmente conto com os outros para fazer um pouco de tudo.
Por isso contratei Genalva, uma linda mulata de olhos castanhos claros, cabelos encaracolados, e uma linda bunda, que afinal de contas estou velho, mas ainda, Graças a Deus, não cego. Genalva faz tudo que eu peço, quer dizer, quase tudo. Ela faz uma comida fantástica, talvez por ser nordestina sabe como ninguém colocar os temperos certos e maravilhosos na comida. Eu ainda posso comer muitas coisas, só não consigo mais comer é pimenta e chocolate, me da um problema intestinal horrível. Ser velho tem esses problemas, tudo começa a ficar podre. Todo remédio para o coração, para o colesterol, que por sinal minha médica falou que está melhorando, graças aos cuidados de Genalva, remédio para os ossos, remédio para a pressão, que por culpa de Genalva sobe cada vez que ela deixa cair alguma coisa no chão ou chega perto para arrumar meu travesseiro, e remédio para a memória.
Vocês podem pensar que pareço um velho tarado só por falar assim de Genalva, mas vocês não sabem como é ficar velho e sozinho. Minha mulher morreu quando eu tinha apenas 50 anos, estava entrado em uma idade muito difícil, ainda mais para ficar viúvo. A falta de sexo me faz muito mal. Mas o principal problema é ficar sozinho. Os dias demoram muito para passar, a semana até a festa durou quase um mês, sem muito o que fazer ficava me intrigando sobre o que teria de bom na festa.
Pedi para Genalva me arrumar para a festa, não consigo mais me vesti sozinho, ela colocou meu terno antigo, que eu usa para ir as festas de gala que minha esposa sempre fez questão de ir. Peguei um táxi para a casa de Manoel, meu melhor amigo, ele disse que o lugar da festa era surpresa, que era para eu me arrumar com a melhor roupa e ir para lá. Cheguei por volta das 8 horas da noite, um pouco tarde, ou nos dias de hoje, cedo para uma festa. Todos já estavam me esperando, e pareciam esconder uma grande surpresa. Sinceramente eu esperava que fosse uma stripper, afinal, não haveria presente melhor.
Manoel então entrou na sala e disse: Até que enfim, já podemos então começar com a feeeesta!!
Fiquei super empolgado, vieram do nada várias bandejas com sanduíches de peito de peru, meu preferido, e kibe, que eu também adoro, apesar de não poder comer em excesso. Estava achando tudo bom até que Manoel anunciou que as surpresas iriam começar. “- Vamos colocar o filme e começar”. Estranhei, mas esperei. Quando vejo, eles compraram Alexandre, O Grande, e acharam que aquilo era algo que ia me agradar. Dormi um pouco durante o filme, além de ser muito grande, era muito chato. Quando finalmente acabou Manoel empolgado disse: “- Agora a melhor parte. Quantas cartelas você quer?” ele me perguntou. Olhei e não acreditei, eles iam jogar bingo... B-I-N-G-O!!!!!Não tive a menor dúvida, liguei para Genalva e disse: “Genalva, vem me buscar que eu estou odiando”.