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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Por que as crianças gostam de Valtidisnei

Piaui 13, como sempre muito boa.



Eu tinha 7 anos e usava calças curtas de botão. Um dia fui com meus pais e meus irmãozinhos ver Pinocchio, de Valtidisnei; a gente não perdia filme de Valtidisnei. O cinema estava muito cheio, tivemos de sentar separados. Estava indo muito bem quando veio a cena da baleia que come Pinocchio. Saiu uma desordem danada e eu gritei, chorei e saí correndo, mas não achei mamãe, estava muito escuro. A cena da baleia dava cada vez mais medo, então resolvi sair do cinema para não sofrer mais. Me perdi dos meus pais desse jeito, ou eles se perderam de mim. Não sabia o endereço de casa, só sabia a cor e o jeito dela, e que havia um baleiro na esquina. Não sabia também meu nome inteiro, era muito comprido e não conseguia decorar. Não tinha documentos, não tinha emprego fixo, a polícia foi obrigada a me pôr num reformatório de órfãos e filhos perdidos.

No primeiro ano, aprendi as coisas da vida, jogar pôquer, aprendi palavras novas. O passadio não era muito bom, mas a companhia era. Comecei a usar calças compridas de suspensório. A única esperança de rever minha família era um outro filme de Valtidisnei, que meus irmãozinhos apreciavam tanto.

Certa vez, vi no jornal que ia passar A Vitória pela Força Aérea, de Valtidisnei, no cine Art-Palácio. No dia da estréia, ganhei no pôquer, fugi do reformatório e entrei no cinema às 2 horas da tarde. Fiquei no cinema durante as duas semanas em que o filme passou, dormia no banheiro, no entanto minha família não apareceu (depois soube que meus pais não foram porque achavam que um filme de guerra não é bom para crianças. E meu pai trabalhava na Marinha).

Tive de voltar ao reformatório. Já era um veterano, e como prêmio pelo meu mau comportamento ganhei o direito a talher para comer, travesseiro, cigarros, bebidas espirituais e fui convidado pra freqüentar a sala do diretor uma vez por semana. O diretor sempre tinha gostosas guloseimas para dar aos meninos bonzinhos da vida. Coitado, o diretor era muito solitário porque sua mulher tinha fugido com Rubão, o carcereiro-chefe.

Já tinha dois anos de reformatório e não podia me queixar da vida. Daí anunciaram Bambi, “um poema de ternura e compreensão animal”. Ganhei no pôquer, fugi de novo e fui correndo ao cinema. Me lembro até hoje. Na sessão das 4, na cena em que o esquilo diz que podem chamá-lo de flor, reencontrei de novo meus pais e meus irmãozinhos. Foi uma festa. Eles já haviam sentido a minha falta e também esperavam um filme de Valtidisnei. Estavam cheios de presentes para mim. Só papai, que era muito distraído, ficou sério e me passou um sabão porque eu não tinha feito a barba e estava com o pescoço meio sujo.

Voltei enfim para o lar. Hoje já estou maiorzinho e progredi muito na vida. Sou chefe de uma quadrilha do bairro e estou nervoso porque esta tarde vamos assaltar minha casa. Meus pais e meus irmãozinhos foram ver a vesperal de Cinderela. Eu não quis ir, mas ainda gosto de Valtidisne

2 comentários:

Anônimo disse...

acho que eu estava no filme o Pimmochio em Teresina e tbm gritei e me perdi ods meus pais, e fui dar de casa na rua pela primeira vez entendi que aquilo era a vida e nao podia ser mais rebelde do que eu era pq ia levar porada.
parabénS Lia

Anônimo disse...

PERDOE AS FALTAS DE ACERTOS DIGITEI UM COMENTÁRIO ANTERIORMENTE E NÃO PRESTEI ATENÇÃO AO TECLARO RUIM...BJUS SUCESSO LIA