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domingo, 26 de agosto de 2007

A elite esperneia

Edição da Carta Capital dessa Semana.
Enquanto a Piauí não vem


Desde a separação de Ricardo Mansur, em 2003, Patríia Rollo leva uma vida mais modesta. Trocou a espaçosa casa no Morumbi por um apartamento pequeno, ainda que bem decorado, na região dos Jardins. Os lautos tempos de primeira-dama do império Mesbla e Mappin parecem coisas do passado. Patrícia, porém, como ela mesma diz, continua a fazer parte de um “clubinho”, um universo de brasileiros que mal chegam à casa do milhão de integrantes, usualmente denominados de elites.

A exemplo de vários dos seus pares, Patrícia está cansada. E não só do presidente Lula ou do caos aéreo. Está farta de ser apontada, ao lado dos amigos, como responsável pelas mazelas históricas do País. “Os menos privilegiados fantasiam a elite como uma vida perfeita”, afirma a socialite. Antes de continuar o raciocínio, manuseia o colar de pérolas. “O povo está acomodado. Não vou falar dos baianos. Será que devo falar? Até pelo clima, pelo calor, pela falta de cultura, é inerte. Tem gente que fica com o Bolsa Família e não trabalha mais”, analisa, para em seguida enumerar seus apoios a projetos sociais. Entre eles, a doação dos lucros do livro Boas Maneiras – Nunca é tarde para aprender ao projeto Escola do Futuro, que mantém 600 alunos carentes.

A reação de Patrícia é parte de um fenômeno que tem se manifestado de forma mais constante e do qual o movimento Cansei, encabeçado pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, o promoter João Dória Jr., cantores e celebridades, é a face mais pública e comportada. Nos cafés de 9 reais e coiffeurs, nas mesas dos restaurantes que servem Petrus nas suas cartas de vinho e nas butiques de grife das maiores cidades percebem-se os indícios de uma rebelião dos abastados, pautados pelo noticiário renitente e monocórdio acerca da “corrupção nunca antes vista” e menos afeitos a admitir responsabilidade pelo enorme fosso social, pela captura do Estado por interesses privados e pelas limitações da cidadania que, no fim das contas, afeta a todos.

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